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domingo, 6 de novembro de 2016

Tremper Longman responde a Justin Taylor acerca da historicidade de Adão...


Texto  postado originalmente no blog Academic, do Logos Bible Software, no qual Tremper Longman III faz algumas observações sobre a historicidade de Adão e Eva. Boa leitura...

O convidado do post de hoje é Tremper Longman III, o qual é o professor da cadeira Robert H. Gundry de Estudos Bíblicos no Westmont College. Dr. Longman recentemente filmou alguns cursos para o Logos Mobile Ed, e nós tivemos a chance de conversar com ele sobre a historicidade de Adão.

Em 2009, Justin Taylor, no Gospel Coalition, meditava: “me pergunto como Longman abordaria o ponto de senso comum colocado por N. T. Wright” no qual Wright sugere que Paulo claramente cria em um Adão e uma Eva históricos, mas via isto sob a luz da “dimensão mítica ou metafórica da história”. Nós pedimos ao Dr. Longman para responder esta questão. Veja o post original de Taylor em “Tremper Longman on the Historicity of Adam”.

Em primeiro lugar, eu sei que são feitas referências a Adão em importantes lugares tais como Romanos 5.12, mas a primeira coisa que penso que devemos perceber é que Gênesis 1-2 não está interessado em dizer-nos como Deus criou. Em vez disto, o texto está nos dizendo que ele o fez, bem como muita coisa sobre quem ele é e sobre nossa relação com ele. Não estou dizendo que o texto não é histórico – ele é. Considero-o história teológica. Mas a diferença entre Gênesis 1-11 e Gênesis 12 em diante é que a história como relatada em Gênesis 1-11 não pretende ser lida como sendo estrita e precisamente literal. Nós vemos isto por todos os usos de linguagem figurativa, a ausência de sequências concordantes entre relatos da criação e a interação com os textos do antigo Oriente Próximo – não que os textos de Gênesis estejam copiando dos referidos materiais, mas, antes, estão interagindo e realmente polemizando contra as mesmas narrativas.

Se este for o caso, então é bom olhar para a ciência para ver o que se está dizendo sobre isto. Não estou dizendo que temos que aceitar a ciência, que a ciência está sempre certa, que ela permanece estática ou coisa do tipo. Mas para mim parece que existe boa evidência, especialmente baseada em dados genéticos, que Deus utilizou-se da evolução. Assim, afirmo uma perspectiva criacionista evolutiva.

Isto levanta a questão do Adão histórico. Em minhas conversas com biólogos – e estou falando de biólogos cristãos como Dennis Venema, Francis Collins e Jeff Schloss de Wesmont – e em minhas leituras, as evidências sugerem que a evolução não trabalha começando com um simples casal, mas em vez disto retorna a uma “população reprodutiva” original de cerca de cinco a dez mil pessoas. Isto faz surgir um questionamento sobre um possível conflito entre ciência e Bíblia. E não me entendam mal – se a Bíblia diz uma coisa e a ciência diz outra, eu fico com a Bíblia! Mas por outro lado, penso que deveríamos primeiro perguntar: “estamos entendendo a Bíblia corretamente ao insistir nisto?”. É frequentemente frisado que este é o erro fundamental que ocorreu no tempo de Galileu. Algumas vezes a ciência pode refinar nosso entendimento do texto bíblico.

Para mim, esta é uma questão de me dirigir a meus amigos biólogos cristãos e dizer: “vocês estão errados por ensinarem estas coisas” ou se eu, como acadêmico bíblico, deixo-os como acadêmicos bíblicos, ter a latitude de ensiná-lo. Mas isto levanta a questão de como nós compreendemos Adão e Eva.

Existem, basicamente, quatro posições nisto. A primeira é o criacionismo da terra jovem: Adão e Eva foram o primeiro casal. Existe, então, o ponto de vista do criacionismo da terra antiga: Adão e Eva foram o primeiro casal, mas eles foram criados a muito mais tempo. Alguém como Tom Wright argumenta, baseado principalmente no uso de Paulo de Romanos 5:12-21, que este considerava Adão e Eva como um casal histórico. A visão atual do Wright, como eu a entendo a partir de conversas com o mesmo, é que ele não adota uma posição similar às duas primeiras que tenho descrito, mas antes que Adão e Eva seriam algo como um casal representativo dentro daquela população reprodutiva. Eles não estavam sozinhos. E, realmente, isto ajuda a explicar certas características de Gênesis 1-11, como com quem Caim se casou, de quem Caim estava com medo, etc. Assim, esta é sua visão: eles foram um casal representativo real, como a rainha e o rei. Ou poderíamos concebê-los como sacerdote e sacerdotisa, desde que Gênesis 1-2 também fala sobre o cosmos utilizando-se de um tipo de linguagem de templo.

Esta pode ser a solução correta. Mas eu também concederia a possibilidade de que Adão e Eva sejam representativos daquele casal original. O que eu insistiria – lembre-se que penso que o texto é história no sentido de falar sobre coisas que realmente ocorreram – que em algum ponto do processo evolucionário estamos falando de um tempo quando os seres humanos tornaram-se cônscios e capazes de escolhas morais. Nós os descreveríamos como inocentes até pecarem. E eu também insistiria, porque penso que isto concorda com o gênero de Gênesis 3, que houve uma queda histórica. Penso que estes são ensinos importantes de Gênesis 1-3.

Agora, nos termos de Romanos 5.12 e seguintes, penso que é possível – e provavelmente o sugeriria – que, como Tom admitiu em sua citação, existem elementos figurativos e que Paulo teria reconhecido estes mesmos elementos na representação de Adão. Também apontaria para outro proeminente acadêmico do Novo Testamento, James Dunn, o qual diz que é ser condescendente achar que Paulo tinha que pensar que Adão e Eva foram um casal histórico. Existem outros exemplos, no primeiro século, de uso de personagens de um modo arquetípico.

Meu bom amigo John Walton dirá sobre Adão que este foi uma figura arquetípica. E sua afirmação seguinte é que arquétipos podem ser históricos, como Melquisedeque no livro de Hebreus. Concordo que Adão é uma figura arquetípica, mas também afirmaria que Adão não tem de ser histórico. Não estou insistindo que Adão não seja histórico, mas apenas dizendo que se ocorrer de ele não o ser, isto não solaparia a verdade de Gênesis ou Romanos 5.12 e seguintes.

Original aqui.Tradução: Robson Barbosa da Silva

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O que se sabe atualmente sobre o universo...

Uma contribuição do físico Alexandre Fernandes (Lattes  aqui) para Deus e a Ciência...

            Quando você liga um rádio em uma frequência definida, o seu aparelho está captando, para ouvir a sua música preferida de forma lima, uma onda muito específica. Mas, o que acontece se você sintonizar em outras faixas que não tem rádio? Ouvirá um ruído. O mesmo acontece com as antigas televisões analógicas quando está procurando um canal e tem aquela "imagem" de chuvisco. O que é esse ruído ou essa "imagem"? A maior parte dela vem de um universo primitivo, de mais de 13 bilhões de anos.

            A descoberta da natureza desse ruído dá-se ao acaso. Em 1964 Arno Penzias e Robert Wilson estavam trabalhando com uma antena e tentaram eliminar um ruído que vinha de todas as direções, chegando a limpar a antena da sujeira de pombos que viviam por perto. Sem sucesso e com mais estudos posteriores, em 1978 os dois levam o Nobel de física pela descoberda da radiação cósmica de fundo em micro-ondas (ou CMB, do inglês cosmic microwave background).

            Como toda onda eletromagnética, a CMB tem uma frequência definida e vem de todos os lados. Onda eletromagnética, como a gente vê no ensino médio, é uma onda “composta” de fótons, que são partículas de luz. Cada frequência tem uma cor (como no caso do espectro visível) e, com isso uma temperatura. Ou seja, todo corpo emite radiação eletromagnética e a frequência em quê ele emite está relacionado com sua temperatura.






Fig. 1. Espectro eletromagnético (extraído de FEUP - PSTFC )

O efeito Doppler (de se ouvir um som mais agudo quando uma sirene se aproxima e mais grave quando ela se afasta) também está associado às ondas de luz. E a detecção dessa onda, através de sua temperatura, nos dá informações das propriedades da fonte de emissão.

            Sucedendo o COBE (Cosmic Background Explorer) e o WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe), a sonda Planck fez um mapa detalhando de cada flutuação da CMB. Ele é fruto de 15 meses de dados coletados. Após as análises temos, até o momento, os detalhes mais refinados sobre o universo, envolvendo sua idade e sua composição.





Fig. 2. Mapa do universo com base na CMB (extraído de Planck Mission)

Olhando esse mapa, os pesquisadores da missão Planck tiraram algumas informações precisas, pois já tínhamos ideia, de sondas anteriores, sobre a composição, idade e a velocidade de expansão do universo. Só que agora se tem muito mais refino, ou seja, a precisão é muito maior do que antes.

            Sobre a composição do universo: quase ¾ do universo é composto de energia escura, 27% de matéria escura (não confundir: matéria escura é algo completamente diferente e distinto, sem relação ou interação com energia escura) e apenas quase 5% é de matéria ordinária, ou seja, muito menos de 10% do universo é tudo o que conhecemos, vemos e sentimos, incluindo planetas, galáxias, aglomerados de galáxias, poeira etc. 





Fig. 3. Composição do universo (extraído de Plank Mission)

            A matéria escura seria algo que ainda não sabemos o que é e que interage apenas gravitacionalmente. Ou seja, não podemos visualizar aglomerados de matéria escura, mas podemos visualizar efeitos gravitacionais (lentes gravitacionais) provocados por ela. Por exemplo, no aglomerado de galáxias Abell 1689, quando se analisa todos os efeitos gravitacionais de todas as galáxias, observa-se que “falta” mais matéria (bariônica, ou seja, que emite luz; que seja feita de partículas conhecidas), pois há muita curvatura ou lente gravitacional mas a quantidade de matéria que se observa não é suficiente para tal fenômeno. E isso se estende para vários outros casos, como uma estrela que, na periferia de uma galáxia, deveria ter uma velocidade menor do que uma que está mais ao centro. No entanto, a velocidade é praticamente a mesma.



                

Fig. 4. Aglomerado Abell 1689

            Já a energia escura é algo menos intuitivo e mais complicado de se perceber. Em 1998 duas equipes (Supernova Cosmology Project e High-z Supernova Search Team) observaram que o universo estava se expandindo de forma acelerada, mas que não há “nada” afastando as galáxias. Por suas análises usando supernovas (explosões de estrelas que têm um brilho e uma forma de funcionar bem definidos e conhecidos) e muitas técnicas de física estatística, chegaram à conclusão de que quando o universo tinha 7,8 bilhões de anos de idade, começou a se expandir aceleradamente. Em 2011 os representantes das duas equipes (Saul Perlmutter, Brian Schmidt e Adam Riess) ganharam o Nobel de física por essa descoberta.
  
            Através da lei de Hubble e das análises do magnífico mapa feito pelo Planck, a constante de Hubble foi mais bem aproximada: 67,3 Km/s/Mpc, ou seja, a expansão do universo está a 67,3 Km por segundo a cada um megaparsec de distância (1 parsec = 3,26 anos-luz e 1 ano-luz = 9,46 trilhões de Km, considerando a velocidade da luz como de 299.792.458 m/s). Usando a mesma lei de Hubble e outras informações a mais do mapa, temos uma idade muito mais aproximada para o universo: 13,8 bilhões de anos.
  
            Além do mais, com esse mapa, foi obtido um suporte mais firme para a inflação, que foi um período muito curto de tempo, no início do universo, onde ele literalmente se inflacionou, ou seja, seu crescimento deu-se a taxas de 1029; em um tempo muito curto, um volume de um metro cresceu até 10.000.000.000.000.000.000.000.000.000 metros em cada lugar do universo (que estava “nascendo”).

            É incrível como de uma “simples” observação de um aparelho podemos tirar tantas informações acerca do universo. Usando a relatividade geral e várias outras teorias, que têm fortes fundamentos observacionais e experimentais, podemos construir toda a história do universo até nossos dias.




 
Fig. 5. A história do universo (extraído de Plank Mission)

Para mais detalhes sobre esse assunto há vários livros muito bons:

* Introduction to cosmology, de Barbara Ryden (editora Addison Wesley)

* Introduction to cosmology, de Matt Roo (editora Wiley)

* An introduction to the science of cosmology, de Derek Raine e Ted Thomas (editora IoP)

* Gravity: an introduction to Einstein’s General Relativity, de James Hartle (editora Pearson Education)

Outras boas fontes:

* Missão Planck, em cooperação com ESA e NASA: http://planck.cf.ac.uk/results/cosmic-microwave-backgroundhttp://www.esa.int/Our_Activities/Space_Science/Planck e https://www.nasa.gov/mission_pages/planck/

* Sobre Arno Penzias, uma biografia (do Nobel): http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1978/penzias-bio.html

* A palestra ao Nobel do Penzias: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1978/penzias-lecture.pdf

* Sobre Robert Wilson (do Nobel): http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1978/wilson-bio.html

* A palestra ao Nobel do Wilson: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1978/wilson-lecture.pdf